terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Língua portuguesa em sincronia
Br/Cv



Após sua independência, Cabo Verde estabeleceu boas relações de cooperação com diversos outros países, em especial os países falantes de língua portuguesa (vide Comunidade dos Países de Língua Portuguesa). Em 1975, foram estabelecidas relações entre Brasil e Cabo Verde, e em 2012 estabeleceu-se uma cooperação militar entre ambos.
Mas não é só nesses quesitos que há uma relação entre as duas ex-colônias colônias de Portugal. Na verdade, existem em milhares, mas o âmbito a ser tratado aqui é literatura e em que pontos ambas se assemelhas.

Veja na entrevista a seguir, ocorrida durante o evento Diálogos Atlânticos: Cabo Verde e Brasil, com quatro escritores cabo-verdianos, sendo uma delas a Ministra da Educação: 
Livre Opinião – Ideias em Debate: Qual o lugar da literatura de Cabo Verde no mundo?
Fátima Bettencourt: Este lugar adquiriu muita importância, pois já temos um prêmio Camões, portanto não é uma brincadeira. É uma coisa séria e que vem desde o século 17, mas tem-se conseguido pouco, pois as prioridades do país são sempre outras. Porque a terra é pobre, produz muito pouco quase nada. Então, o momento de fazer da literatura uma prioridade, eu não sei quando é que vai ser não [risos]. Mas nós vamos tentando engatinhar, fazer algumas coisas aos poucos, como este evento aqui na universidade. Também já estivemos há algum tempo na Universidade de São Paulo, pois lá há muita leitura das obras cabo-verdianas, as literaturas cabo-verdianas estão sendo muito estudadas, tem-se feito várias teses de mestrado e doutoramento em toda a obra dos cabo-verdianos, então isso dá-nos alguma animação. Mas é uma coisa muito pontual e que ainda não tem muita expressão.
Danny Spínola: Nós, em Cabo Verde, temos ainda muitos constrangimentos. Temos um espaço enorme em termos de pertencimento, que são os países de língua portuguesa, onde nós poderíamos estar inseridos, termos nossas obras neste espaço. Mas acontece que não temos grandes editoras e não temos distribuição dos livros, então o que nós editamos em Cabo Verde acaba ficando apenas em Cabo Verde, não temos essa opção de distribuição. Em Portugal, por exemplo, não há possibilidade de se fazer essa distribuição porque é muito caro, assim, é preciso ter este intercambio de fato [“Diálogos Atlânticos: Cabo Verde e Brasil”], porque são encontros como este que dão-nos a possibilidade de estarmos, por exemplo, aqui em São Carlos, fazendo a divulgação. Mas é uma coisa ainda mais no nível de convite e não uma atividade programada que nos dê essa oportunidade de levar nossa literatura para fora, então temos ainda estes tipos de constrangimentos.
Mesmo internamente, temos ainda um grande problema, pois não existe um mercado que possibilite-nos sermos editados e que nos possibilite vivermos de nossas próprias literaturas e, só então, termos a possibilidade de sair do país e mostrar nosso trabalho. Existem sim algumas editoras que vão até Cabo Verde, ou que editam ainda escritores cabo-verdianos, mas não têm uma visão ampla e acabam por escolher apenas alguns, cerceando a possibilidade de novos autores surgirem com força no mundo. Outro problema grave é que não temos críticos literários, críticos de arte… então, vês que há ainda várias questões, vários problemas em termos críticos e também comerciais, que nos impedem de termos, de fato, uma importância e uma grande visibilidade.
Vera Duarte: A literatura cabo-verdiana tem alguma visibilidade, sobretudo no mundo, porque é uma literatura escrita essencialmente em português, embora a gente já tenha alguns autores que são traduzidos em outras línguas, por exemplo, em francês e inglês. Os países africanos de língua portuguesa, além do Brasil e Portugal, têm na literatura alguma repercussão, mas devo dizer também que apesar de não haver ainda um grande movimento de tradução das obras de outros autores cabo-verdianos, muitos outros autores têm seus livros traduzidos em várias línguas. Além disso, o que se mais verifica é a presença e participação de escritores cabo-verdianos em vários países, seja da África, da América, até mesmo de países asiáticos, onde vão falar um pouco da literatura cabo-verdiana e da escrita dos escritores cabo-verdianos. Isso que é essencial para o conhecimento da literatura de Cabo Verde.
Corsino Fortes: Completando com o que disse a Vera Duarte, não há dúvida nenhuma que depois do aparecimento do Prêmio Camões a nossa expressão literária ganhou muita visibilidade e, notadamente, nas universidades também, principalmente as brasileiras. Vários escritores cabo-verdianos já são objetos de teses de mestrado e doutorado, mesmo assim o que também se deu certa visibilidade da obra foi devido a qualidade estética, abordagem e temática. Nós temos como referência na área acadêmica a professora Simone Caputo, que tem trabalhado há cerca de 40 anos sobre literatura cabo-verdiana e servindo como orientadora com muitos mestrandos e doutorandos. Não há dúvida nenhuma que entre nós isso tudo tem ajudado na divulgação das obras de Cabo Verde.
Notadamente, somos um país pacífico, não têm grandes problemas, mas de qualquer forma a literatura cabo-verdiana é muito querida e respeitada na sua qualidade estética e também no seu conteúdo. Nós esperamos que medidas políticas e diplomáticas tenham a intenção à expressão literária que se realiza hoje nos cinco países africanos de língua portuguesa, para que os livros não tenham a mesma carga fiscal que tem outros produtos, que haja uma livre circulação nas alfândegas e aeroportos. Por exemplo, nós trouxemos livros, alguns ficaram por motivos disso, é óbvio que tudo isso é um problema que tem que ser compreendido, conscientizado para que todos os países possam de fato abrir para que tudo que seja expressão cultural tenha um trânsito livre.
LOID: Quais são as principais influências da literatura brasileira nas obras cabo-verdianas? Qual a ligação que vocês têm com a literatura do Brasil?
Fátima Bettencourt: Bom, há alguns autores que não gostam que se fale em influências, mas eu, particularmente, gosto de falar. Porque, na verdade, não há nada de novo, tudo se vai aprendendo com os outros e com aquilo que já foi feito. Vamos dando nosso cunho pessoal e acho que foi isso que aconteceu conosco. Não posso garantir isso cem por cento porque não estava naquela época [risos], mas quando se começou lá o movimento Claridoso, por exemplo, que veio dar um grande impulso à literatura realmente cabo-verdiana, eles tinham lido sim o José Lins do Rego, o Graciliano Ramos, Jorge Amado e toda essa gente, então não é nenhuma asneira a gente ver que dali pegaram alguma coisa e elaboraram de outra maneira, deram suas próprias formas. Existem trabalhos feitos por investigadores que fazem uma comparação, um paralelismo, entre Manuel Lopes e Graciliano Ramos, por exemplo, principalmente no que concerne ao cunho social daquelas literaturas.
Então, há sim senhor alguma influência. Ninguém está aqui pensando que isso diminui o valor do que é escrito, pelo contrário, eu sei que o principal divulgador dos Claridosos, que era o Doutor Baltazar Lopes da Silva, nunca escondeu que lia estes livros. Ele tinha até uma frase muito bonita que dizia algo como “Caiu em nossas mãos fraternas e fraternalmente juntas os livros dos fulanos e cicranos e etc”, quer dizer, ele considerava aquilo uma coisa boa, uma coisa boa que estava acontecendo. E foi assim com a primeira leva dos escritores Claridosos, claro que depois vieram novos autores que adotaram outras técnicas, outras filosofias, literaturas e mesmo políticas, portanto, outros tipos de escrita, outras formas, outros posicionamentos e assim é. Neste assunto acredito que possa falar melhor meu amigo Danny, pois é de sua geração que estamos a falar [risos].
Danny Spínola: Pois é, sempre houve alguma intertextualidade entre escritores cabo-verdianos e também brasileiros, inclusive até na música houve sempre alguma influencia, uma dinâmica enorme em termos de encontros entre diálogos entre Brasil e Cabo Verde. No caso da literatura – vou falar de mim, pois é evidente que há diversos outros pensamentos entre a minha geração –, tivemos sempre muito mais contato também com os escritores universais, não somente os escritores cabo-verdianos, portugueses e brasileiros. Evidentemente que, em alguma altura, os cabo-verdianos não poderiam mais ficar confinados aos portugueses porque não tinham muita possibilidade de ter acesso a outros escritores – embora alguns tenham tido.
Mas, em meu caso, se eu fosse ter uma influência seria de Clarice Lispector, porque eu adoro Clarice [risos]. Mas é evidente que já convivi com vários outros escritores como Jorge Amado, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, Mário de Andrade – especialmente Macunaíma – e também vários outros poetas, desde os mais clássicos até os contemporâneos. Mas não creio que eu tenha tido influência direta deles, se calhar, talvez até tenha tido alguma, porém inconsciente. Conscientemente, acho que, se fosse ter, seria a Clarice Lispector, embora eu também goste de Cecília Meireles, Rachel de Queiroz e etc.
Fátima Bettencourt: Eu acho o seguinte: toda influência é inconsciente, senão, seria plágio [risos na mesa].
Danny Spínola: Mas não é nem que se vá fazer um plágio, pode sim haver uma influência consciente e que te vai motivar a escrever algo, como um força, como um ponto de partida, mas não realmente como plágio. Mas claro, é certo que, de se conviver com outros escritores, há frases e versos que te marcam e vão sair em tua literatura de alguma maneira, e isto é até uma coisa muito bonita.
Vera Duarte: A gente tem falado um pouco disso na palestra. Essa influência foi desde o início quando começou a ter os primeiros traços da literatura na metade do século XIX, 1850 para ser mais exato, que a primeira geração cabo-verdiana já cita escritores brasileiros como Olavo Bilac, Castro Alves, José de Alencar. Portanto, desde essa primeira geração já tínhamos vestígios de escritores cabo-verdianos terem lido os escritores brasileiros através dos livros e revistas que chegavam a Cabo Verde, sobretudo os que vinham da Europa do Norte e do Brasil e Argentina.
Depois do advento da geração modernista com a revista Claridade, esse diálogo entre Brasil e Cabo Verde se tornou mais explícito na medida em que são os próprios autores da revista Claridade que dizem que encontram nos escritores brasileiros a influência. Autores como José Lins do Rêgo, Jorge Amado, Manuel Bandeira, enfim são diversas as obras que os escritores cabo-verdianos encontraram certa cumplicidade e acima de tudo as situações sociais que verificavam existir em Cabo Verde e que fizeram muito de suas escritas um manifesto, os claridosos fincaram os pés no chão e falaram sobre as realidades do país.
Portanto, eu acho que os modernistas brasileiros tiveram um papel bastante influente para os escritores cabo-verdianos, falando genericamente.  Atualmente, as influências se tornaram mais diversificadas.
Corsino Fortes: Bom, tenho muito pouco a acrescentar do que já disse a nossa querida Vera Duarte. Na verdade, se o Movimento Claridoso apareceu em Cabo Verde e foi, podemos dizer, essencialmente a primeira tomada de consciência da posse da terra na sua expressão literária, mas também em sua relevância uma tomada de consciência política, não tão expressa porque o ambiente político não era agradável, qualquer reação contra o sistema a pessoa era presa. Não há dúvida nenhuma que esse movimento que aconteceu aqui no Brasil em 1922, que transformou o que chamam de neorrealismo chegou a Cabo Verde e foi apropriado, sendo a primeira independência em relação aos cânones literários da Metrópole [Portugal].
Já para o Brasil era a posse da terra, porque teve a independência, mas os cânones ainda eram europeus. Para Cabo Verde era também no sentido de fincar os pés no chão e termos a consciência do quem nós somos. Tudo bem, somos portugueses, mas temos uma especificidade própria. Neste sentido, começamos a buscar a nossa identidade que já vinha sendo traçada com os Nativistas, que ganhou mais vigor com os claridosos e que depois com a geração de [Amílcar Lopes] Cabral assumem a sua totalidade, uns como combatente da liberdade da pátria outros na resistência cultural até chegar de fato na independência.
Bastou a luta política no sentido de conscientização, e não há dúvida nenhuma que Brasil e Cabo Verde estavam sempre ligados, até porque existia um orgulho muito grande do Brasil independente e havia consciência disso, por isso que Cabo Verde se afastava do continente africano e começou a ter mais relações com o Brasil. Preciso dizer que houve sempre entre cabo-verdianos e brasileiros, mesmo os portugueses de esquerda, uma consciência política que  ajudaram na luta não contra Portugal e sim contra a ditadura salazarista.
LOID: Para vocês como está a literatura cabo-verdiana nos dias de hoje? Há publicações, divulgações, produções e circulações?
Fátima Bettencourt: Bom, na época da independência nós tivemos uma paralisação. Foi um momento de dizer: vamos colocar a caneta no lugar e arregaçar as mangas para resolver a situação do país, só depois vamos voltar a escrever. Tivemos esta paragem, pois foi uma mudança muito grande. Imagine ter uma bandeira e de repente subir outra, isto mexe com as pessoas, com todas as estruturas emocionais… com tudo!
Então foi isso que aconteceu, tivemos esta paragem, mas depois veio tudo de novo com muito vigor, uma vontade de escrever, de inovar, enfim, de se fazer coisas novas em literatura. Eu, particularmente, só ando a escrever contos e crônicas, tenho evitado a escrita de textos muito longos. Mas já têm me cobrado e essa brincadeira de não escrever textos longos tem também seus negativos. Enfim, há coisas que eu gosto de deixar escapar, deixar para trás, gosto de textos enxutos, sem muitos anseios.
Danny Spínola: Bom, nós não tivemos algo da mesma razão que vocês tiveram, como a Semana de Arte Moderna, não? Algo propositadamente realizado para que houvesse uma revolução em termos de escrita, em termos do ideário poético, artístico, literário. Para nós, as coisas foram acontecendo, tivemos vários e vários escritores, vários momentos. Tivemos também algumas rupturas entre alguma geração e outra em termos temáticos e até estéticos, além de termos como marco o período claridoso, que começa com a Revista Claridade e que inaugura a moderna poesia cabo-verdiana com o versolivrismo, deixando para trás os cânones clássicos das rimas e métricas, isso tudo na década de 1930.
Após a independência, como disse a Fátima, houve um momento mesmo de blackout, porque os escritores tinham já a tendência para ter uma poesia constestatória da situação colonial em que vivíamos, portanto, nós, no combate àquela imposição colonial, acabamos tendo uma paragem mesmo, não havia um motivo – no sentido de uma inspiração – claro para se escrever naquele momento de luta. Mas, depois, com o tempo, vieram sim novos escritores e mesmo os escritores que foram da Claridade e que começaram a abordar novas temáticas, novas linguagens. Além, é claro, daqueles escritores que foram da Geração Claridosa e que também são desta geração. Assim, na literatura, passamos a ter outras realidades: se antes a realidade era de seca, fome, de opressão e dessa opressão surgia a força da literatura como contestação, como reivindicação, passamos a ter outras preocupações para representar. Agora temos os espaços urbanos com muitos problemas que trazem a enfermidade ao homem, problemas psíquicos, de segurança, criminalidade, etc. Quer dizer, são outros, são novos tempos.
Portanto, temos aí uma nova geração que é ampla, heterogênea, com escritores formados por várias leituras do mundo. Há uma heterogeneidade imensa de estilo, de tema e de abordagem do mundo. Aliás, ao contrário de muitas literaturas do mundo, nós não temos escolas, ou correntes, literárias. Cada um vai escrevendo à sua maneira, cada um vai fazendo a sua literatura, consoante ao diálogo que tem com outros escritores, com o mundo.
Vera Duarte: Basicamente não podemos nos esquecer de uma coisa, nós somos um país com uma população pequena, então o público leitor não é muito, isto faz com que as edições e tiragens não possam ser de grande dimensão. Neste sentido, precisaríamos de muito mais apoio, mais possibilidades de edições, porque os nossos livros esgotam e ficam muitas vezes sem reedições. Enfim, precisaria de mais apoio, portanto, continuamos a escrever e o caminho está sendo bem trilhado.
Corsino Fortes: Nós estamos a fazer um esforço e esse esforço está ligado à criação da Academia Cabo-Verdiana de Letras [Corsino é atualmente o presidente]. Nós encontramos um governo muito aberto com ótimas ideias e espero que toda essa conjugação dos esforços possibilitará a publicação e a difusão da literatura, porque há muita gente para publicar. Existe muita gente produzindo e escrevendo só não tem condições de publicação, mas estão sendo criadas condições neste sentido. Então, temos um governo que está muito interessado, só que não há dúvida nenhuma que eu e a Vera, ela como foi ministra da Educação e eu fui ministro da Justiça, sabemos das grandes dificuldades de Cabo Verde.

Entrevista removida do site: http://livreopiniao.com/2014/05/21/em-entrevista-escritores-cabo-verdianos-falam-sobre-sua-literatura-e-os-lacos-com-o-brasil/

Outras referências:
http://pt.slideshare.net/karens2fofi/traba-24919808 (página 14)



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Texto de Beatriz Salazar está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional.

sábado, 6 de dezembro de 2014


   Cabo Verde é um Arquipélago cheio de história, misterioso e dotado de uma beleza exuberante. Sua descoberta é uma controvérsia histórica, uns consideram que foi descoberta de 1456 por Diogo Gomes, durante as explorações da África com objetivo à Índia Comandada por Dom Henrique. Os italianos consideram que a primeira expedição foi em 1460, comandada por Alvise Cadamosto.

   Originalmente, era um arquipélago totalmente não povoado por humanos, como confirmado em expedições pelas ilhas comandadas por Diogo Afonso. A essas ilhas foi-se dado o nome comum de cabo verde, por “estarem ao poente dele (Cabo Verde) por distância de cem léguas.”, segundo palavras de João de Barros.

   Cabo Verde foi incorporada à Ordem de Cristo, por mando do filho do Infante Dom Henrique, o Dom Fernando, administrador da Ordem. A sua colonização apenas começou em 1462, e ainda apenas em uma de suas ilhas (a atual ilha mais povoada, Santiago) e teve uma certa facilidade em crescer, porquê a mão de obra era próxima às ilhas e as plantações de Cana-de-açúcar. A ilha foi divida em 2, uma parte sendo doada a Diogo Gomes e a outra a António da Noli.


   Esse ponto da história cabo-verdiana, com informações talvez vagas de sua descoberta, explica em certos pontos seu caráter atual, e sua cultura próspera mesmo estando em um ponto distante no meio do atlântico. Uma cultura que nasceu semelhante à do Brasil, mas que se tornou muito diferente com o passar do tempo. Isso é Cabo Verde.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

   Cabo-Verde é um país que precisa conviver com a falta de alguns importantes recursos, principalmente a água, sendo inviável obter um economia baseada com agricultura ( a maioria dos alimentos são importados) ou pecuária (mesmo existindo grande população rural) , e tendo que se voltar para outras formas de se obter receita , como turismo e transporte. O fato de Cabo-Verde ser um conjunto de ilhas não é um fator determinante para o desenvolvimento da pesca, pois ela é muito pouco aproveitada.
   A moeda utilizada em Cabo verde é chamada de Escudo Cabo-Verdiana , o seu PIB não alcança bons números e sua variação de 6,9 % ao ano promete uma crescente nessa economia e isso só foi possível pois a República de Cabo-Verde conseguiu uma melhora significativa por conta do capital externo (turismo, investimentos externos( ajuda econômica em 2010) e comércio).
   Na atualidade vivenciada por milhares de cabo-verdianos , sabe-se que essa economia pode ser instável pois esses investimentos e ajudas de países parceiros como a Espanha e Portugal, podem chegar no fim e restar apenas um dívida para Cabo Verde ( Dívida Externa Bruta : 220 milhões (2010)), que sofrerá ainda mais, e com certeza os dados de desemprego e população abaixo da linha da pobreza, que já são degradantes, poderão se tornar piores ainda.


Autor: João Marcos

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Definição de Artesanato no dicionário: é essencialmente o próprio
trabalho manual ou produção de um artesão (de artesão + ato).

Mas seria apenas isso mesmo? É certo que o trabalho artesanal de cada local
possui suas particularidades. Visto normalmente como algo decorativo e por
vezes também de uso, o artesanato cabo verdiano possui tanta importância
que vai além de tudo isso: é a expressão cultural de seu país, além de ser
também a renda de subsistência de muitas famílias. O artesão por vezes se
concentra no cotidiano dos cabo verdianos, sendo possível perceber tanto
pelos materiais quanto pelo trabalho final, com destaque para a tecelagem e
a cerâmica.

Atualmente os artistas cabo verdianos tem expandido seus trabalhos: vão
estudar no exterior e fazem uso das influências lá encontradas, mas nunca
deixando de lado suas raízes.

E para dar prosseguimento a esse belo trabalho existe o Centro Nacional de
Artesanato e Design, que tem a sua sede na cidade de Mindelo, na ilha de
São Vicente -a ilha com o maior índice de desemprego-.  Segundo a
plataforma virtual Nós Genti, o objetivo do Centro é  ”fomentar
o artesanato cabo-verdiano e servir de ligação entre os artesãos, asociedade e a economia nacional”. Atualmente, o responsável pelo Centro
é Manuel Fortes, que se dedica à formação de novos artesãos. De acordo com
ele, a época em que o artesanato se tornou praticamente destinado apenas a
ornamentar foi bem difícil, já que a venda se tornava a cada dia mais
difícil de ser feita.* Assim que recuperou uma posição mais funcional e os
preços caíram, o artesanato conseguiu obter o retorno financeiro.

Um grande nome do artesanato cabo verdiano foi Leão Lopes, que também se
dedicou ao design, cinema e literatura. Nascido em Santo Antão, fez
doutorado na universidade de Rennes II na França, é diplomado em pintura
pela Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa e membro do Conselho da
Presidência  da República. Quando perguntado sobre em que área se sente
mais confortável  para trabalhar, declarou que na verdade não há uma área
especifica, mas que quanto à forma que irá expressá-la ele opta para a que
melhor lhe dá suporte. Revelou ainda nessa mesma entrevista que não teria
alcançado tudo o que conseguiu sem a educação que teve, o que aconteceu com
colegas seus de profissão que tiveram diversas dificuldades pelo
caminho.Algumas de suas obras são A História de Blimundo –conto infantil-,
o recente S.Tomé - Os últimos contratados e o documentário Bitu. Leão Lopes
foi o cineasta homenageado no 6º Cineport – Festival de Cinema, ocorrido em
2011.

Outros grandes nomes que merecem destaque são Kiki Lima, também nascido na
ilha de Santo Antão; Tchalê Figueira, e Luísa Queirós,que embora tenha
nascido em Lisboa mudou-se para o Cabo Verde.



Trecho retirado de Nós Genti:
*Nós Genti: **Qual o seu maior desejo para Cabo Verde?*

*Leão Lopes: *Que seja um país de uma boa referência para todos nós,
proporcionando-nos uma existência criativa e serena, e que acima de tudo,
se consiga realizar em pleno.



Alessandra

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

É necessário clicar na imagem para visualizá-la no formato correto.


      E é com essa chamada que brinca com a Revolta dos 20 Centavos ocorrida no Brasil ano passado que inicio esse post.
      É a um fato que Cabo Verde vem crescendo economicamente de forma considerável nessa década. O IDH, nos últimos 14 anos, aumentou em 0,63, indo de 0,573 a 0,636. No entanto, somado a esse crescimento, há um aumento nas porcentagens da quantidade de pobreza do país.
      Contudo o documento utilizado como base para a produção desse texto supõe que, com base em análises, que esse aumento pode ter sido ainda maior, pois os dados de 2001 já encontravam-se mal demarcados. Assim, o índice de desigualdade também aumenta. Esse aumento, ironicamente, traz uma queda. Ano passado, o arquipélago estava na posição 123, dos 187 países que constam no ranking. Esse ano, caiu para a 121º posição, por decair em 20%.
      O documento também apresenta os seguintes dados:

  • "a incidência da pobreza é maior quando o chefe de família é mulher;
  • a influência da educação na determinação da pobreza é significativa;
  • os chefes de agregados jovens são menos pobres;as ilhas de Santo Antão e Fogo (ilhas predominantemente agrícolas) apresentam a maior incidência de pobreza;
  • a pobreza aumenta com a dimensão da família;o desemprego ou o emprego precário afecta de forma bastante mais acentuada os pobres do que os não pobres;
  • é entre os trabalhadores não qualificados e os qualificados da agricultura e pescas que existe maior propensão para se ser pobre;
  • a agricultura e pescas são os sectores que mais contribuem para o número de pobres entre a população habitualmente empregada."



      Apesar de o governo estar criando estratégias para combater essa desigualdade, os próprios habitantes tomam algumas atitudes desesperadas para fugir dessa pobreza arrebatadora, sendo estes "emigração, o recurso ao trabalho nas FAIMO, o mercado informal, as remessas das famílias do exterior e a criação de associações de desenvolvimento comunitário."
      As políticas públicas adotadas abrangem todas as áreas, e possuem o apoio de diversas ONGS, dividindo os programas em alguns tópicos:
  • "Promover a boa governação, reforçando a sua eficácia e garantindo a sua equidade;
  • Promover a competitividade para favorecer o crescimento económico e a criação de empregos; 
  • Desenvolver e valorizar o capital humano;Melhorar e desenvolver as infra-estruturas básicas, promover o ordenamento do território e salvaguardar o ambiente;
  • Melhorar o sistema de proteção social, reforçar sua eficácia e garantir a sua sustentabilidade."
      É perceptível que o país conseguiu criar bons projetos, mas a prática ainda não foi muito longe. O documento estudado é de 2004, e visava grande melhora com as políticas públicas, todavia podemos ver que esta ainda não está presente. É verdade também que o país vem tendo ganhos significativos e possui um IDH superior aos países da África subsaariana, então só podemos esperar que a tendência torne a ser uma melhora ascendente.


Referências:
http://pascal.iseg.utl.pt/~cesa/files/Doc_trabalho/76.pdf - fonte principal
http://www.portalangop.co.ao/angola/pt_pt/noticias/africa/2014/6/30/Cabo-Verde-Desigualdades-sociais-custam-pais-desenvolvimento-humano,109448d2-4b5e-4819-93dd-33d2c6307dfd.html - fonte secundária




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segunda-feira, 24 de novembro de 2014

   O futebol é uma paixão mundial, independente da história, da localidade e até da técnica. A cultura futebolística muitas vezes faz com que as pessoas se esqueçam de problemas passados, e trazem uma alegria indescritível no momento. Além de promover amigos improváveis, conhecer lugares novos, entre outros fatores positivos.
   Em Cabo Verde não é diferente, apesar de não ser conhecido mundialmente, tem sua história no futebol. Em 1981, a seleção Cabo-verdiana participou de seu primeiro campeonato, a Taça Amílcar Cabral, do qual é uma competição de seleções de futebol da África Ocidental. Apesar de começar a disputar campeonatos nos anos 80, seu primeiro título foi em 2000. A seleção de Cabo Verde teve boas participações em outros tipos de campeonatos também, como; A medalha de ouro nos Jogos da Lusofonia em 2009 e a medalha de prata nos jogos da CPLP(Comunidade dos Países de Língua Portuguesa). Os jogos da Lusofonia são um evento parecido com as Olimpíadas, porém os países que participam são os países de língua portuguesa. Já os jogos da CPLP tem o mesmo sentido dos jogos da Lusofonia, mas apenas é permitida a participação de atletas com idade inferior a 16 anos.
   Em 2012 o povo de Cabo Verde teve uma grande alegria, pela primeira vez na história do país a seleção cabo-verdiana se qualificou para o Campeonato Africano das Nações, sendo a maior competição organizada pela CAF(Confederação Africana de Futebol), que se Cabo Verde ganhasse ou ficasse entre os 4 primeiros, teriam chances de ir para a Copa das Confederações de 2014, no Brasil.

Autor: João Gabriel Battaglia
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Sele%C3%A7%C3%A3o_Cabo-Verdiana_de_Futebol
           http://pt.wikipedia.org/wiki/Ta%C3%A7a_Am%C3%ADlcar_Cabral
           http://pt.wikipedia.org/wiki/Jogos_da_Lusofonia

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Drogas são substancias estranhas que, em contato com o organismo pode causar alterações psicossomáticas e dependência, esta que é proporcional à tolerância,da quantidade consumida e frequência de que é utilizada. A humanidade, ao longo que se desenvolvia conseguiu se transformar em consumidor e produtor destas substâncias com diversos fins: político, religioso, econômico, cultural e social.

Para se ter uma ideia, há mais de quatro mil anos, os Sumérios da antiga Mesopotâmia faziam cultivo de papoula, e dela extraíam ópio. Citas da Europa Oriental inalavam maconha. Vinho e bebidas alcoólicas eram uma dádiva divina para os Egípcios, Gregos, Hebreus e Romanos. Na América do Sul, a folha de coca era considerada divina, e quando espanhóis utilizaram a coca, o cacto de peiote ou cogumelos, consideraram algo demoníaco. Além disso portugueses transportavam cânhamo para suas colonias, incluindo Cabo Verde.

Em Cabo Verde, a utilização de ervas para fins curativos, calmantes, afrodisíacos e de prazer, além do uso das especiarias do oriente na culinária, uso do tabaco e da aguardente são socialmente aceitáveis até os dias atuais. O uso de opiáceos, cocaína e maconha foram aceitos até o século XIX. Após a proibição, no inicio do século XX não houve aumento de criminalidade no país, somente após a independência a penetração da droga aumentou gradualmente atingindo tanto as camadas sociais mais altas quanto as mais baixas. Isso se deu por causa da inclusão do arquipélago na rota do tráfico de cocaína.

Cerca de 2,2 toneladas de cocaína são apreendidas anualmente no país e o aumento do uso da padjinha(como é conhecida a maconha em Cabo Verde) aumentou em 60% no país, chegando a proporções muito maiores que na década passada.

Mesmo com o aumento crescente de usuários e recomendações da ONU em relação a descriminalização das drogas, a justiça de Cabo Verde ainda prefere métodos clássicos, como aumentar a repressão aos consumidores dado a banalização do consumo de cannabis no país pela camada jovem, porém, a impunidade e a corrupção da polícia(assim como no Brasil) torna a guerra às drogas algo danoso para o país.

Aparentemente, ainda demorará para que ajam discussões válidas para mudar e melhorar o arquipélago em relação a conscientização de jovens em relação as drogas, vendo que a maior parte da população e políticos, além de ser profundamente católica, ainda apoia a repressão ao usuário, marginalizando-o, aumentando o crime e a violência. Como não há movimentos pró legalização das drogas ativos e influentes no país devido a repressão, talvez apenas em um futuro distante, tal assunto possa ser abertamente discutido no país.

 
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