I, II e III períodos literários

PERÍODOS

PRIMEIRO PERÍODO
(1836-1925)

"Tres lustros só contava, e já da Patria
Os benéficos ar's me não sorriam
Nas africanas plagas definhava
A mais bella porção de juventude
Por constante doença atormentado,
Via, em ócio, decrescer o bellos dias,
Que podéra aproveitar pulindo o engenho;"
(José Evaristo d'Almeida)

A literatura de Cabo Verde começou em 1836, com a publicação de um diploma que determinava a introdução da tipografia do arquipélago. Em 1842, originado de tal diploma, foi criado o Boletim Oficial do Governo-Geral de Cabo Verde, que possuiu um grande alcance a diversos níveis, inclusive literário. Três anos depois, fundava-se a Escola Principal de Brava, que tinha como objetivo vocacionar os alunos do primário e secundário para o magistério.
Os primeiros espaços privilegiados de divulgação de textos estavam em jornais, revistas e almanaques. Por isso, a prosa prevaleceu sobre a ficção nesse período.
O crioulo também foi utilizado como língua literária, intensificando-se e se mantendo até os dias atuais.
Foi muito influenciado pelo Romantismo e Parsaniasismo.
Infelizmente, não há muitos registros divulgados sobre obras deste período, tornando difícil a busca por informações e complementos a respeito.
O Escravo (1856), de José Evaristo d'Almeida, foi o primeiro romance de temática cabo-verdiana. É uma obra que muito critica o sistema esclavagista e que com nitidez mostra a identidade cabo-verdiana em formação, com sua componente africana.
Foi um período marcado por um pré-discurso pela independência, protonacionalismo e reinvidicativo que se desenvolverá a partir de 1926.
Autores importantes do período: Antónia Gertrudes Pusich, José Evaristo d'Almeida, Guilherme Dantas e António Arteaga.

SEGUNDO HESPERITANO (OU SEGUNDO PERÍODO)  
(1926-1935)
"Nasci na Ilha de Fogo,
Sou, pois, caboverdeano,
E disso tanto me ufano
Que por nada dera tal.
Ser filho de Cabo verde,
Assevero - fronte erguida -
Que me é honra a mais subida
Ser neto de Portugal"
(Pedro Cardoso)

No início do século XX, os autores caboverdianos tentaram encontrar uma identidade que os diferenciasse de Portugal, valorizando a terra crioula. É o que chamamos de regionalismo telúrico. Porém, os poetas dessa época ainda usam referências europeias em busca de sua identidade e assim criando o mito hesperitano.
Os poetas recorreram a um passado de glórias do paraíso perdido de Atlântida como uma maneira de conforto à situação em que se encontravam, diante da miséria causada pelas condições climáticas adversas das ilhas.
José Lopes, autor de 4 livros sobre o mito, encontrou justificativa dos problemas que assolaram a sua terra ao mito de atlântida. E afirmava que o arquipélago era o que sobrou da antiga civilização.
O livro Jardim de Hespérides, de José Lopes, marca o início do segundo período.
Autores importantes: José Lopes, Pedro Cardoso.

PERÍODO CLARIDOSO (OU TERCEIRO PERÍODO)       
(1936-1957)

"Eu gosto de você, Brasil,
Porque você é parecido com a minha terra.
Eu bem sei que você é um mundão
E que a minha terra são
Dez ilhas perdidas no Atlântico,
Sem nenhuma importância no mapa.
(...)

Você, Brasil, é parecido com a minha terra,
as secas do Ceará são as nossas estiagens,
com a mesma intensidade de dramas e renúncias.
Mas há no entanto uma diferença:
é que os seus retirantes
têm léguas sem conta para fugir dos flagelos,
ao passo que aqui nem chega a haver os que fogem
porque seria para se afogarem no mar...
(...)

havia então de botar uma fala
ao poeta Manuel Bandeira
de fazer uma consulta ao Dr. Jorge de Lima
para ver como é que a poesia receitava
este meu fígado tropical bastante cansado.
Havia de falar como Você
Com um i no si
– “si faz um favor –
de trocar sempre os pronomes para antes dos verbos
– “mi dá um cigarro!”
(...)"
(Jorge Barbosa)

Iniciou-se com o lançamento da revista Claridade, liderada por Jorge Barbosa, Baltasar Lopes e Emanuel Lopes, membros da elite intelectual cabo-verdiana. 
Esse grupo, diferente do Hesperitano, buscou exaltar e admirar as raízes locais inspiradas no modernismo brasileiro, que eles vêem como um país mestiço, independente e com língua diferente do colonizador. Além disso, há uma semelhança climática entre o nordeste brasileiro e Cabo Verde. 
Em suas obras, temas como a seca, a fome e a insalubridade foram constantemente utilizados, já que sempre afligiram a população cabo-verdiana. 
As obras giram em torno da viagem a ilha da felicidade, Pasárgada, feita por Manuel Bandeira. O autor foi considerado um irmão para Jorge Barbosa, e é muito citado por Baltasar Lopes. Jorge Barbosa se inspirou a imagem de Pasárgada na pobreza do arquipélago, e não pela doença como fez o autor brasileiro.
Foi o período mais importante da literatura cabo verdiana, deixando conteúdo a ser contestados e renovados até atualmente como, por exemplo, a evasão da realidade cabo-verdiana para Pasárgada.
Assim, o fim do período Claridoso se deu por esse movimento anti-evasão, tendo como lema dito "Não vou mais para Pasárgada", e autores conhecidos como Geração da Nova Largada, em 1958.


Autores importantes: Jorge Barbosa, Baltasar Lopes, Manuel Lopes, Corsino Fortes

Texto por: Suzana Barbosa e Lucas Motta, 2014. Blog Eu Me Chamo Cabo Verde © todos os direitos reservados, é permitida a divulgação do texto, desde que haja a fonte.

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